Sou paulistana, 47 anos, casada e com um filho de 15, e uma pet linda a quem considero filha também, de 5. Sou administradora de empresas, mas tenho até vergonha disso, porque já não tenho mais nada dessa vida. Também sou formada em Licenciatura em Letras, inglês/português, e mestranda em ilustração.

 

O mais importante sobre mim, mesmo, é a aquarela.

Minha história de amor profundo por aquarela começou em 1989, quando eu tinha apenas 17 anos. Tinha acabado de passar pelo ano sabático após o ensino médio e uma temporada em Paris (fundamental na minha vida), e tinha voltado para o Brasil para prestar vestibular. Eu adorava ir ao cinema aos domingos, e minha melhor amiga costumava me convidar a passar nos avós dela antes do cinema, que moravam no caminho, e eu ia. Adorava essas visitas, especialmente porque criei um carinho por eles. O avô dela era pintor (óleo), e as paredes da casa eram forradas de pinturas. Enquanto ela conversava com a avó e o avô, eu ficava plantada admirando as pinturas, em especial uma delas. Um dia tomei coragem e perguntei para ele o que ela aquela pintura, e ele respondeu: aquarela. Eu não conseguia tirar os olhos daquela paisagem, parecia que existiam mil pinturas, uma sob a outra, e que haviam montes de coisas para descobrir em cada camada de tinta. Era suave e intensa ao mesmo tempo. Era delicada, mas comovente. Eu só queria poder olhar para ela, sem fim. Ele percebeu meu amor, e me ofereceu aulas de aquarela. Eu aceitei. Nas primeiras pinturas, ele disse que eu precisava treinar bastante, mas que eu tinha futuro.

Meses depois estava nas aulas de administração de empresas e logo em seguida, estagiando num banco multinacional. Nunca larguei as cores, mas aceitei que precisava de uma carreira para ganhar dinheiro e me resignei em “ser gente grande”. Pintura era, para minha família, apenas um hobby. Aos poucos, acabaram os papeis e as tintas, sobraram apenas os pasteis e papeis de desenho, que só voltaram a ser usados para desenhar princesas para minha sobrinha.

 

 

Muito anos se passaram, meu amor pela aquarela ficou adormecido.

Eu tinha me mudado para o interior de São Paulo em 2009, com minha família, e eu tinha montado uma consultoria na área financeira. Mas estava infeliz. Meu marido sugeriu: “volte a fazer o que você ama de verdade”. Eu não queria ser mais uma fracassada na carreira. Num dia quente qualquer de 2011 eu dirigia até a casa da minha sogra e vi uma placa “aulas de aquarela”. Parei o carro, anotei o número e liguei ainda naquele mesmo dia. Fui ao atelier na semana seguinte, com material recém comprado, morrendo de vergonha, e recebi minha primeira aula depois de tantos anos parada. Minhas mãos não reconheciam os pinceis, eu não sabia mais o que fazer com a tinta, eu me sentia começando do zero. Em poucas semanas eu me tornava uma pintora contumaz. A professora de pintura teimava em me mandar fazer flores, meio abstratas, e eu queria voltar aos rostos, aos olhares. Comecei a pesquisar na internet, ver muito youtube, fiz conta em todas as mídias sociais, encontrei artistas fantásticos e inspiradores. Em especial uma italiana sensacional, Agnes Cecile. Comecei a segui-la e ela foi minha grande inspiração no meu retorno. Não tentava copiar o trabalho dela, mas eu me sentia profundamente motivada a pintar sempre que assistia aos vídeos dela. Em pouco tempo, eu já estava produzindo 30 a 40 aquarelas por semana. Minha professora de aquarela nem sabia direito o que fazer comigo. Larguei as aulas, e comecei a produzir sem parar, sem expectativa, sem esperar nada. Eu só era feliz, eu pintava.

Tomei coragem e comecei a postar, em 2012, algumas aquarelas. A notícia se espalhou entre amigos e conhecidos. Começaram a aparecer encomendas, convites para exposições, comissões para ilustrações, demandas diversas. Eu nem podia acreditar que as pessoas gostavam das minhas pinturas. Pessoas do exterior começaram a me seguir e pedir aquarelas também. Eu achava engraçado. Nem entendia direito, eu nem me achava artista. Eu só era uma pessoa que amava aquarela, amava pintar, e tinha vergonha de não ser boa suficiente, só isso.

No fundo, eu só tinha vontade de pintar. E queria ilustrar alguns personagens que eu criava em contos infantis, para tentar publicar livros infantis. E, de repente, eu me vi profissional. Tomando decisões que eu nunca imaginei, nem sonhei. Não sei como, nem quando, mas eu queria ser levada a sério como artista plástica. Eu queria me levar a sério para ser a melhor aquarelista possível. A essa altura, já estava fazendo pelo menos 4 exposições anuais, a maioria individual, decorrente de convites, especialmente em São José do Rio Preto, onde moro.

Entre um lado e outro, pintura e escritura, entrei em Letras na UNESP Rio Preto, porque adoro o currículo do curso de letras: muita literatura. No meio da graduação, passei no intercâmbio internacional para a University of Georgia, em Athens, nos Estados Unidos. Fiquei lá cinco meses, cursei desenho, pintura, inglês, escrita criativa e literatura infantil. Meus desenhos foram selecionados, todos, para a exposição anual da UGA. Fiquei honrada. Isso já era 2016.

Quando voltei ao Brasil, estava empolgada com o feed-back dos professores da UGA e resolvi investir na minha carreira como aquarelista. Investir significava tempo, que eu estava dedicando muito mais para a graduação. Era o último ano da UNESP, e resolvi prestar a prova para o mestrado, e passei. Estou no mestrado da UNESP e estudo ilustração. Estudo o pintor americano N. C. Wyeth que foi um dos maiores ilustradores da história.

Em 2017 realizei o que eu chamo de Top 2 na lista de coisas que queria fazer antes de morrer: um curso de aquarela com a Agnes Cecile. Fui para a Espanha, em Sevilla, fui na exposição dela, falei com ela, falei inclusive que eu a amo, pedi abraço, tirei foto. Depois passei três dias com ela e mais 19 aquarelistas, tão apaixonados quanto eu, pela Agnes Cecile e por aquarela. Eu vi que eu tenho iguais, pertenço a um grupo de pessoas distintas, os aquarelistas. Uma técnica considerada menor, ilustração, chamada de gauche pela maioria das pessoas, nem tem lugar de destaque em museus, vende pouco, e daí?

 

 

Desde o final de 2016 tenho me envolvido mais em ações da cidade e eventos artísticos em geral. Tenho interagido mais com outros artistas e buscado divulgar profissionalmente meu trabalho. Em 2017 consegui começar o trabalho com duas curadoras. Na cidade de São Paulo, a Rose de Paulo, fez o meu projeto para o Metrô, Linha da Cultura, e em dezembro de 2017 tivemos o resultado: eu tinha sido selecionada. A exposição do metrô começou em maio de 2018 na estação República, passou para a estação Corinthians-Itaquera em junho. Normalmente, eles recebem os artistas por dois meses, mas tivemos a excelente notícia de que eles me colocariam mais um mês, e começo no dia 10/07 na estação Jardim São Paulo.

A outra curadora é a Angela Oliveira, de Alphaville – SP, com quem comecei fazendo uma exposição coletiva, e que me propôs fazer parte do projeto de circuito europeu para 2018. Aceitei. O projeto de divulgação de artistas brasileiros da Angela envolveu, no primeiro semestre de 2018, exposições em Roma (Arte Borgo Gallery), Vienna (Vienna Workshop Gallery) e Paris (Carrousel du Louvre), e vai no segundo semestre para Londres, Amsterdam, Genebra, Cascais e Paris, de novo. O projeto do circuito também envolve o livro catálogo dos artistas, que é uma publicação importante para os artistas plásticos.

2018 tem tido um ano divisor de águas na minha carreira profissional. Comecei o ano com uma viagem de férias com a família para o sul do país, e descobri inspiração numa planta, ornamental e desprezada pela maioria das pessoas, chamada Capim dos Pampas (Cortaderia Selloana), e que me proporcionou pintar num novo patamar de motivação. Eu sinto realmente que houve uma nova produção após o capim, minhas aquarelas ganharam autoria, e eu mudei meu approach ao papel, ao pincel, aos pigmentos. Revendo meu portfólio, antes e depois de 2018, eu mal consigo me reconhecer. Eu havia ficado conhecida pelos retratos e, de repente, eu era a pintora de capim. Meus amigos faziam piadas comigo, que eu passava por uma crise de identidade. O que eu vejo é que eu me encontrei no capim, nas paisagens, no movimento da planta, na redescoberta da aquarela.

 

 

O que passa nesse momento?

Estou no portfolio da maior revista de artes do mundo a Artists & Illustration. Estou tentando entrar em algumas galerias on line, em avaliação para algumas importantes oportunidades, que ainda não posso citar. Também estou sendo avaliada para ser representada por algumas galerias, uma delas em Londres, em um estágio um pouco mais avançado do que as demais. Já estou no catálogo da galeria em Vienna, a Vienna Workshop Gallery, e a Espazio Galeria, em Alphaville – SP. Resolvi procurar projetos de cultura e propor projetos, tudo em andamento, sem certeza alguma. Também estou em contato com espaços importantes para exposições, e tenho muita, muita esperança de ter notícias maravilhosas em breve.

O ponto crucial neste momento é montar um catálogo profissional e lançar isso no mercado. Comecei a cuidar disso agora, e isso é tudo muito novo para mim. Eu espero tomar fôlego, respirar fundo, um passo por vez, e seguir, pouco a pouco, para me tornar uma profissional reconhecida. Cada decisão é importante, e cada oportunidade é a porta aberta que pode ajudar muito nesse processo.

 


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