Minha nova série é consequência de uma vontade indelével das últimas semanas. Um chamado. Eu senti um querer que se resumia a pintar em preto e branco. Era muito mais que curiosidade ou experimentação. Eu precisava me exprimir nesse formato, dessa maneira, com essas cores. Eu sei, eu sei: elas representam a totalidade das cores e a total ausência delas. Mas minha instância não é conceitual! É a expressão mais legítima do meu momento.

Um tempo de violências extremadas, uma época de ansiedades doloridas, uma fase de cobranças titânicas. De um lado, eu queria o equilíbrio da sanidade, que eu consigo somente quando eu pinto. E, de outro, o mundo me corroendo pelas beiradas.

Essa série fala da beleza que existe na minha jornada verídica pela pintura, da minha relação sincera com os pincéis, do meu completo abandono de dedos, mão, intenção e pré-determinação no ato de realização de cada obra. Eu me destitui de estilo, de convenções, de objetivos. Eu deixei o papel absorver como quis, o álcool, e depois o nanquim. Eu permiti que eles se envolvessem intimamente. Eu esperei que eles se familiarizassem, sem interferência. Eu assisti até o momento inadiável de agir e participar daquilo.

A série não é abstração. Nem abstrata. Ela é a realização do eu que existe agora. Eu vertida. Eu derramada. Eu despejada. Eu preta. Eu branca. Eu no cercamento dos meus afetos aflitos. Eu no cerne do meu universo circular. Eu no epicentro das minhas vaidades. Eu no olho do meu furacão. Eu, egoisticamente, no centro do meu alvo. Cercada pelas inscrições mais particulares do meu mundo único.

Renovada.

Série: CORE. Nanquim e álcool sobre papel de aquarela (Hahnemühle 425gsm). Intervenção com caneta preta e branca.


Deixe uma resposta

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.

Descubra mais sobre Edna Carla Stradioto

Assine agora mesmo para continuar lendo e ter acesso ao arquivo completo.

Continue reading